placebo
Arquivo de imagens, anotações, desenhos e diagramas Tatiana Grinberg Projeto Placebo nº de inscrição 11050908 Edital de Artes Visuais de Chamada Pública nº 009/2008 Secretaria de Estado de Cultura do Estado do Rio de Janeiro
quinta-feira, 29 de março de 2012
segunda-feira, 19 de setembro de 2011
segunda-feira, 25 de abril de 2011
domingo, 24 de abril de 2011
texto luis camillo osório
O que sobra é corpo, o que resta é tempo.
Luiz Camillo Osorio, Curador
As peças de Tatiana Grinberg não estão apenas expostas ao olhar. Há nelas uma abertura sensorial mais ampla, exploram o tato e a audição, entregam-se ao contato, sugerem o vazio, assumem o mistério e a delicadeza como elementos poéticos. Em um mundo hiper-excitado e espetacular, exercer a sutileza é uma forma de resistência.
A primeira impressão é sempre visual. A partir daí vão se constituindo os deslocamentos: táteis, auditivos, gustativos. Com isso, vão se criando novas sensações que se inscrevem e se referem a uma memória corporal, num jogo de correspondências produzido pelo já sentido e pelo que imaginamos sentir. O que está fora, a voz, por exemplo, se torna interior, pensamento; o branco, por sua vez, além de cor, vira fluido e frio; nesta complexa sinestesia, as palavras produzem imagens, ouvimos pela boca, o tempo cria saliva. Não interessam as sínteses, disseminam-se sensações e sentidos.
Estas pequenas esculturas apostam na potência das partes multiplicarem o todo. Não se constituem totalidades, mas todas as partes falam por si e por um todo irrealizável. Entre parênteses: “falam as partes do todo” foi um espetáculo da coreógrafa Dani Lima que teve a colaboração cênica e escultórica da artista. Nos cálculos - pequenos moldes de porcelana realizados pela pressão das mãos sobre o corpo - vemos um conjunto produzido a partir de uma soma de gestos mínimos que é ao mesmo tempo fração e forma. No aperto e nos amassos o molde em látex é virado ao avesso, o gesto segue mínimo recortando um detalhe do corpo, agora pelo negativo, pelo vazio, que é preenchido pelo som, pelas palavras, pelo tempo: Nunca mais, sempre, de novo; nunca mais, sempre, de novo. O corpo é, nestas peças, sujeito e objeto, interioridade e exterioridade, estrutura e pele.
Uma mesma repetição de fragmentos, onde corpo e tempo se articulam e se complementam, aparece na peça intitulada placebo. A apropriação tecnológica nasceu de interrogações poéticas múltiplas: pela vontade de despersonalização da voz e da narrativa, pela desconstrução do relato de intervenções cirúrgicas, pela experimentação que se desdobra em experiência que se faz outra vez experimental. O chip selado no molde preparado para ser posto na boca, produz ruídos que se traduzem, via os ossos da boca, em som e pedaços de frase. O que se ouve é o tempo, o tempo do corpo, que está dentro ao ser ouvido, e fora por não ser produzido/desejado/sentido por nós, numa sequência desarticulada de fragmentos onde tudo é parte e movimento.
Nos desenhos de Tatiana Grinberg, que são estudos e respirações, a linha se faz letra que se faz figura que se revela fragmento, luz, ausência e ritmo. A integração entre o desenho, a parede e o espaço é a reverberação orgânica de uma vivência poética das partes que se desdobram em totalidades instantâneas e incompletas. Cada peça é um detalhe do corpo que se expande no espaço que deixa de ser extensão para ser duração vivida por dentro. Nunca mais, sempre, de novo. O tempo destas pequenas esculturas e desenhos (serão só isso?) é o das simultaneidades das partes e do(s) agora(s) atravessados de memórias e de expectativas.
Body remains, time rests
Luiz Camillo Osorio, Curator
Tatiana Grinberg’s pieces are not only exposed to the regard. We find in them a broader sensorial openness; they explore touch and listening, they offer themselves to contact, they suggest emptiness, they convey mystery and subtleness like poetical elements. In a hyper-excited and spectacular world, to exercise subtleness is a form of resistance.
The first impression is always visual. From it dislodgements are built: tactile, auditory, gustatory. With this, new sensations inscribed and in reference to a corporal memory are created, in a play of correspondences already produced by meaning and by that which we believe to feel. That which is outside – voice, for instance – becomes an inner experience, thought; whiteness, on its turn, besides being a color, turns into fluidity and coldness; in this complex kinesthesia, words produce images, we hear with our mouths, times creates saliva. Syntheses are not sought after; sensations and meanings are disseminated.
These small sculptures invest in the potency of the part to multiply the whole. Totalities are not built, but each part speaks for itself and for an unreachable whole. Between parenthesis: “the parts of the whole speak” was a performance by the choreographer Dani Lima with the artist’s scenic and sculptural collaboration. In the calculations – small porcelain casts made with the pressure of the hands against the body – we see a set produced from a sum of minimal gestures that are at once fraction and form. In the squeezes and in the kneads the latex cast is turned inside out, the minimum gesture keeps framing a detail of the body, now through its negative, through emptiness, which is filled by sound, words, time: Never more, always, again; never more, always, again. In these pieces, the body is both subject and object, innerness and outerness, structure and skin.
The same repetition of fragments, in which body and time are articulated and complement each other, appears in the piece entitled placebo. A technological appropriation was born of multiple poetic questionings: the wish to depersonalize voice and narrative, the deconstruction of stories of surgical interventions, the experimentation unfolded in experiences that once again become experimental. The sealed chip in the cast prepared to be placed in the mouth, produce sounds that are translated, via the bones of the mouth, in sounds and pieces of phrases. What is being heard is time, the time of the body, which is inside when being heard, and outside for not being produced/wished/felt by us, in a disarticulated sequence of fragments where everything is fraction and movement.
In Tatiana Grinberg’s drawings, which are studies and respirations, the line becomes letter that becomes figure that is revealed as a fragment, light, absence and rhythm. The integration between drawing, wall and space is the organic reverberation of a poetic experience of the parts unfolded into incomplete and instantaneous tonalities. Each piece is a detail of the body expanded into space, which stops being extension to become duration to be experienced inside. Never more, always, again. The time of these small sculptures and drawings (are they only this?) is the time of simultaneity of the parts and of present moments permeated by memories and expectations.